Vozes Ancestrais ecoam por justiça climática e territorial 4i6j54

Encontro virtual promovido pela CESE, com apoio e financiamento da União Europeia, reuniu mulheres indígenas de estados diferentes do Brasil, para dialogar sobre justiça climática, resistência ancestral e os impactos das mudanças ambientais em seus territórios.

Na última terça-feira, 13 de maio, aconteceu a roda de conversa online “Vozes Ancestrais pela Terra e pelo Futuro”, promovida pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), com apoio e financiamento da União Europeia. A atividade integra o Projeto Patak Maymu, iniciativa voltada ao fortalecimento da autonomia, da liderança e da participação política de mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado para defesa de seus direitos.

Mais do que uma roda de conversa, a atividade foi um verdadeiro chamado à ação coletiva e ao fortalecimento de alianças. Mulheres indígenas, compartilharam vivências, reflexões e denúncias sobre os impactos das mudanças climáticas em seus territórios, o racismo ambiental e a urgência de uma justiça climática com protagonismo das vozes originárias nos espaços de decisão.

Território, futuro e bem viver 4ar1a

A exploração desenfreada de recursos naturais, o desmatamento e a contaminação ambiental têm colocado em risco a sobrevivência dos povos indígenas, impactando seus territórios, culturas e modos de vida. Nesse cenário, é crucial ouvir suas vozes e reconhecer o papel essencial desses povos como guardiões da floresta e defensores da biodiversidade.

Erileide Kaiowá-Guarani, da retomada Guyra Roká, destacou que a luta é contínua, independentemente da fase ou intensidade. Para ela, retomar é também reflorestar a terra, a mente e o espírito. A crise climática, como lembrou, já afeta diretamente os territórios: há escassez de água, contaminação dos rios e impactos diretos nos corpos indígenas. “O que nos dá força é o movimento”, afirmou.

Belmira Baré, da Associação da Comunidade Indígena Bom Jesus (AICBJ), lembrou que só quem vive nas aldeias entende a profundidade das mudanças. Já Josimara Baré, a e gestora de fundos indígenas, provocou as participantes com uma reflexão essencial: “Que futuro estamos construindo para nossas crianças?”. Ela ressaltou a importância da demarcação de terras e do manejo ancestral como pilares da sobrevivência e bem-estar dos povos originários.

As participantes também denunciaram as diversas formas de violência que atravessam a vida das mulheres indígenas, principalmente quando estão fora de seus territórios, nas cidades, sem apoio nem assistência adequada. Falaram também sobre o avanço do desmatamento e a escassez de madeira para as construções tradicionais nas aldeias, como trouxe a Graci Moura Katawixi.

A ativista Vanda Witoto abordou a grave situação da insegurança alimentar, que fragiliza não apenas o corpo, mas também a espiritualidade indígena. Ela e outras participantes reforçaram a necessidade de preparar mulheres indígenas para ocupar espaços de decisão. 

“Nada sobre nós sem nós”, afirmou Concita Manchineri, ecoando a luta por representatividade real.

Comunicação indígena: uma força contra o silenciamento 6n4g3a

Entre as vozes presentes na roda de conversa esteve a da ativista e comunicadora Samela Sateré-Mawé, assessora de comunicação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Ela trouxe reflexões profundas sobre o papel da comunicação como ferramenta de resistência indígena.

Segundo Samela, a comunicação tem sido um instrumento fundamental para romper o silêncio imposto pela narrativa hegemônica e para garantir que os próprios povos originários falem por si: “ei a utilizar a minha voz nas redes sociais em 2021, durante a pandemia. Percebi que a internet é uma importante ferramenta de luta, não só contra a crise climática, mas também pela defesa dos direitos dos povos indígenas. As mídias sociais se tornam para nós uma sala de aula: entramos na casa das pessoas e mostramos um pouco das nossas vivências. Vocês estão na minha casa agora, e eu estou na de vocês, graças à tecnologia.”

Samela também destacou a importância de incluir a pauta de gênero nas discussões sobre a crise climática, especialmente rumo à COP30: “Nós, mulheres indígenas, enquanto corpos-território, somos as mais impactadas pelas mudanças climáticas. Por isso, precisamos estar nas mesas de debate, mas também nas ações do dia a dia nos nossos territórios. Falar de gênero é falar de território.”

Ferramentas do agora com sabedoria ancestral 4e2b5d

Watatakalu Yawalapiti, do Território Indígena do Xingu e cofundadora da ANMIGA, também enfatizou a importância de as mulheres indígenas se apropriarem de novas ferramentas, inclusive as do mundo não indígena, para fortalecer a resistência nos territórios.“A gente está tendo que usar ferramentas do não indígena também. ar projetos, aprender a escrever, usar o celular. As mais velhas dizem: ‘Vocês meninas têm que aprender a defender a gente do mesmo jeito que aprendem a usar batom ou celular. 

Ela ainda destacou como as mulheres têm liderado ações nos territórios, criando soluções sustentáveis e fortalecendo a soberania alimentar com a floresta em pé: “Estamos discutindo as mudanças climáticas dentro das aldeias, fazendo rodas de conversa e propondo projetos que geram renda e garantem segurança alimentar. Mas ainda enfrentamos desafios, inclusive dentro da própria comunidade.”

Um movimento vivo, ancestral e com olhos no futuro v6v4w

O encontro reafirmou a potência do movimento de mulheres indígenas no Brasil. Uma força coletiva que é ancestral, territorial e política, e que resiste em defesa da vida, da floresta e do bem viver. Com raízes profundas e olhos voltados para o futuro, as mulheres indígenas mostram que reflorestar é resistir.

A roda de conversa contou com a participação de convidadas como Samela Sateré-Mawé, bióloga, ativista ambiental e assessora de comunicação da APIB e da ANMIGA; Watatakalu Yawalapiti, integrante do Movimento das Mulheres Indígenas do Território Indígena do Xingu (MMTIX) e cofundadora da ANMIGA; Erileide Kaiowá-Guarani, liderança da retomada Guyra Roká e graduanda em Pedagogia Intercultural na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS); além de Belmira Baré e Josimara Baré, ambas atuantes na promoção dos direitos e da autonomia das mulheres indígenas do Rio Negro.

Representando a CESE, participaram a diretora Sônia Mota e as assessoras de projetos e formação Ana Paula Ferreira de Lima e Olga Matos.