Mulheres Arteiras: empreendedorismo e dignidade para egressas do sistema penal em Sergipe  1b2f31

Jovem, negra, solteira e com baixa escolaridade: esse é o perfil das mulheres encarceradas no Brasil, que ocupa a 3ª posição em número de pessoas presas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Segundo o Instituto de Pesquisa de Política Criminal da Universidade de Londres, o país conta com 832 mil pessoas em situação de encarceramento.

A realidade de vulnerabilidade enfrentada pelas mulheres em privação de liberdade também persiste após o cumprimento da pena.

Com poucas oportunidades no mercado de trabalho, somadas ao preconceito e às barreiras socioeconômicas, mulheres egressas enfrentam obstáculos para serem reintegradas na sociedade.

Nesse cenário de estigma somado a vulnerabilidade, com o objetivo de incentivar a formação profissional de mulheres egressas do sistema penitenciário, um coletivo popular denominado Mulheres Arteiras de Sergipe promove atividades formativas e empoderamento econômico e político por meio de oficinas, clubes de leitura, cursos, cineclubes e outras atividades de cunho social.

O projeto Libertas – Ressocialização de Mulheres Egressas do Sistema Prisional em Sergipe recebeu apoio da CESE, por meio do Programa de Pequenos Projetos. Através do apoio, o coletivo Arteiras realizou atividades de empreendedorismo para a reinserção dessas mulheres no mercado de trabalho e para o fortalecimento da autoestima das participantes.

“Entendemos que o empreendedorismo tem salvado a vida de mulheres, porque a gente entende também que essas mulheres estão submetidas a várias violências, pois não têm educação financeira e nenhum recurso para se movimentar. Então, a partir do momento em que você consegue movimentar suas finanças, entender que é dona do seu próprio dinheiro e que pode escolher o que fazer com ele, isso traz uma nova visão, de empoderamento.”

O empoderamento financeiro é crucial para a autonomia dessas mulheres. As atividades também envolvem a produção de bijuterias voltadas para o carnaval, calcinhas para mulheres trans e para crianças. “A gente fez toda essa estrutura para dialogar com essas mulheres”, comenta Iza Jakeline Barros, articuladora do projeto.

Cineclube com debate mobiliza mulheres egressas do sistema prisional em Sergipe

Entre as atividades realizadas pelas egressas estão a produção de joias artesanais para o Carnaval, além de peças íntimas para mulheres trans e crianças – frutos das formações promovidas. Iza reforça a importância do empoderamento financeiro para a autonomia feminina.

Além das ações de empreendedorismo e cursos profissionalizantes, as mulheres egressas também participam de atividades voltadas ao autocuidado, à saúde mental, a políticas públicas e à defesa de direitos.

A desigualdade de gênero é um obstáculo à garantia dos direitos humanos das mulheres, especialmente das que integram os grupos mais vulnerabilizados. Diante desse cenário, fortalecer e apoiar iniciativas protagonizadas por mulheres é essencial para superar desigualdades históricas, como lembra Iza.

A filósofa estadunidense Angela Davis, em sua obra Estarão as prisões obsoletas?, problematiza o encarceramento em massa como resposta automática a problemas sociais complexos e aponta como o sistema judiciário, racista e punitivista, criminaliza de forma mais acentuada pessoas negras e latinas. Assim, valorizar iniciativas protagonizadas por mulheres que buscam superar as diversas violências a que estão submetidas é fundamental para enfrentar essa realidade.

“Acho que ter esse olhar para pequenos projetos traz um impulsionamento, não é mesmo? Para nós, enquanto pessoas apoiadas, é uma honra. A gente se sente lisonjeada, sente que está no caminho certo, e que a CESE plantou uma semente, não é mesmo? Agora basta a gente regar e observar os novos frutos. Cada projeto pequeno que chega com um grande impulsionamento é um marco inicial para um grande espaço. A CESE está de parabéns com essa iniciativa. A gente só tem a agradecer, porque agregou muito à vida dessas mulheres”, diz Iza.

Programa de Pequenos Projetos

Desde a sua fundação, a CESE definiu o apoio a pequenos projetos como a sua principal estratégia de ação para fortalecer a luta dos movimentos populares por direitos no Brasil.

Quer enviar um projeto para a CESE? Aqui uma lista com 10 exemplos de iniciativas que podem ser apoiadas:

1. Oficinas ou cursos de formação

2. Encontros e seminários

3. Campanhas

4. Atividades de produção, geração de renda, extrativismo

5. Manejo e defesa de águas, florestas, biomas

6. Mobilizações e atos públicos

7. Intercâmbios – troca de experiências

8. Produção e veiculação de materiais pedagógicos e informativos como cartilhas, cartazes, livros, vídeos, materiais impressos e/ou em formato digital

9. Ações de comunicação em geral

10. Atividades de planejamento e outras ações de fortalecimento da organização

Clique aqui para enviar seu projeto!

Mas se você ainda tiver alguma dúvida, clica aqui