Pretas de Angola em defesa do Cerrado e das Mulheres Negras em Goiás 2dl40

“Nosso papel é transformar relações desiguais, muitas vezes violentas, e possibilitar que, pelo fortalecimento, as lideranças atuem em seus territórios com uma visão de transformação real. Mover estruturas”, comenta Janira Sodré, coordenadora do coletivo Pretas de Angola.

Formado por acadêmicas, ativistas de justiça climática e ambiental, o grupo busca aglutinar mulheres negras para enfrentar o racismo e o sexismo no estado. As ações do coletivo goiano têm promovido incidência política, articulação e formação.

Com o apoio da CESE, por meio do Programa de Pequenos Projetos (PPP), a Pretas de Angola realizou atividades no Julho das Pretas de 2024, na região metropolitana de Goiânia. As ações incluíram rodas de conversa, oficinas, apresentações culturais, campanhas de comunicação e o fortalecimento da construção da Rede de Mulheres Negras Goiana, inspirada na Rede de Mulheres Negras da Bahia.

“A gente gostou muito de ver a experiência de uma plataforma que congregava as ações de várias organizações. Lançamos um formulário para criar um hub digital (ambiente que conecta as pessoas) que reunisse e amplificasse as atividades promovidas por diversos grupos de mulheres em Goiás. Para o PPP, prometemos três entregas, mas fomos além do acordado. Porque, para nós, mulheres negras, nunca é só isso”, explica Janira.

O recurso recebido ajudou a fortalecer redes já existentes, além de articular e potencializar novas conexões. O coletivo Pretas de Angola possui parceria com comunidades quilombolas goianas, como a Kalunga, localizada nos municípios de Cavalcante e Teresina de Goiás, no norte do estado. Um dos resultados inesperados do projeto foi justamente o estreitamento dos laços com os Kalungas, que convidaram o coletivo para atuar como consultora no Comitê de Construção da Política Territorial do Quilombo Kalunga.

Segundo Janira, o apoio da CESE está alinhado com os objetivos e missão do coletivo. Ela compara o recurso a um cuidado ancestral:

“São recursos que lembram o apoio de nossas mães, que suprem o essencial em tempos de urgência. Com isso, conseguimos garantir o lanche, o transporte, o combustível. Fazemos render. É um recurso mulher: um dinheiro que planta, que reproduz”, afirma.

O Coletivo Pretas de Angola reúne uma diversidade de mulheres negras acadêmicas, quilombolas, ativistas climáticas. Foto: Pretas de Angolas

HEGEMONIA AGRÁRIA 3d405h

O estado de Goiás é, hoje, um dos maiores exportadores de grãos do Brasil. Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), ocupa o sexto lugar no ranking nacional. Neste contexto de supremacia do capitalismo agrário, hostil a corpos negros, o coletivo Pretas de Angola articula estratégias para a promoção da justiça climática e racial.

“Estamos enfrentando essa cultura do ‘agro é pop, o agro é tudo’, muito conectada com os interesses do agronegócio. Vivemos sobre o Aquífero Guarani, em uma das regiões dominadas pelo agronegócio. E são justamente os territórios quilombolas goianos que mantêm o Cerrado mais preservado”, pontua Janira.

O Coletivo realiza ações de articulação junto a comunidades quilombolas e periféricas em Goiás. Fotos: Pretas de Angola

Com uma atuação interseccional, o coletivo Pretas de Angola tem promovido feiras e eventos que fortalecem a economia solidária, em diálogo com terreiros de religiões de matriz africana e o Fórum de Religiões de Matriz Africana Goiana.

MARCHA DAS MULHERES NEGRAS 335e35

As mulheres negras goianas também estão se mobilizando para a 2ª Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que será realizada em novembro, em Brasília. Com apoio dos comitês impulsionadores, as goianas se somarão a milhares de mulheres negras de todo o país.

As mulheres negras goianas estão mobilizadas por meio dos Comitês Impulsionadores para a 2° Marcha das Mulheres Negras em Brasília, que acontece em novembro. Foto: Pretas de Angola

“Estamos animadas para chegar em Brasília. Como somos o território mais próximo da capital federal, há uma expectativa de grande adesão. Nosso desafio é garantir uma caravana expressiva. O que pode nos impedir? O racismo, aliado ao sexismo”, afirma Janira.

Ela reforça o entusiasmo das mulheres negras de Goiás com a mobilização:

“O comitê nos desafiou: ‘Vocês estão perto de Brasília, precisamos de uma caravana forte’. E estamos nos organizando para isso.”

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As ações das Pretas de Angola não se encerraram no Julho das Pretas. Elas seguem em curso nos territórios urbanos e rurais. O coletivo mantém alianças com a academia, como a Universidade Estadual de Goiás (UEG), a Universidade Federal de Goiás (UFG), o Instituto Federal de Goiás (IFG), o Fundo Brasil de Direitos Humanos e sindicatos de trabalhadores da rede pública e privada.

“A proposta da CESE reforça essa ideia de rede que se consolida em alianças duradouras, pensadas para o futuro, para sustentar uma relação mais equilibrada entre campo e cidade.”

As mulheres negras enfrentam desafios socioeconômicos e culturais no estado frente ao agronegócio. Foto: Pretas de Angolas

As Pretas de Angola seguem articuladas no território goiano, em defesa do Bem Viver, denunciando o genocídio da população negra, a violência obstétrica contra mulheres negras, e atuando em prol da juventude, das águas e do Cerrado.

Nosso eixo é um mundo sem racismo e sexismo. Não tenho como separar a violência de Estado da questão quilombola, ou o racismo estrutural da justiça ambiental para a periferia, sabe?“, conclui Janira.

Programa de Pequenos Projetos

Desde a sua fundação, a CESE definiu o apoio a pequenos projetos como a sua principal estratégia de ação para fortalecer a luta dos movimentos populares por direitos no Brasil.

Quer enviar um projeto para a CESE? Aqui uma lista com 10 exemplos de iniciativas que podem ser apoiadas:

1. Oficinas ou cursos de formação

2. Encontros e seminários

3. Campanhas

4. Atividades de produção, geração de renda, extrativismo

5. Manejo e defesa de águas, florestas, biomas

6. Mobilizações e atos públicos

7. Intercâmbios – troca de experiências

8. Produção e veiculação de materiais pedagógicos e informativos como cartilhas, cartazes, livros, vídeos, materiais impressos e/ou em formato digital

9. Ações de comunicação em geral

10. Atividades de planejamento e outras ações de fortalecimento da organização

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